Meditação de limpeza da mente - Prof. Hermógenes.
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Técnica: Em lugar onde não venha a ser incomodado,
sente-se confortavelmente, de maneira a que não precise mudar. Olhos fechados, fique inteiramente imóvel
e dê ordens mentais de relaxamento a todo seu corpo, até
chegar a sentir-se como se não tivesse corpo. Entregue-se a
Deus Onipresente, oferecendo a Ele o resultado de sua prática.
Transforme-se em mero espectador dos movimentos da
mente. Deixe-a vagar. Deixe-a ir para onde entender. Seja um
observador atento, mas sem inquietações, sem desejos, sem se
sentir envergonhado ou orgulhoso do que for presenciando. Não
reprima o que lhe desagrada. Também não alimente nem esti-
mule o que lhe convém. Não deseje não ver algo que lhe des-
gosta nem anseie por ver o que lhe interessa. Nada de fazer
"cortes" de censor no filme que sua mente lhe apresenta. Quan-
to maior for sua isenção; quanto mais realizar sama bhava, isto
é, "igualdade de ânimo"; quanto mais você se vir livre de
idéias morais anteriores; quanto mais você sentir-se "desiden-
tificado" com aquilo que está percebendo, mais à vontade, mais
espontaneamente, a mente se revelará, mostrando como é e o
que tem.
Você lucrará:
Porque se alivia de cargas enfermiças, perturbadoras, inde-
sejáveis e mórbidas.
Por afrouxar tensões emocionais.
Por purificar a mente.
Por "desidentificar-se" com a mente e, em conseqüência,
identificar-se com Aquilo que a transcende.
Por desenvolver a coragem de defrontar-se com a parte
de sua natureza, que você sempre temeu.
Nas primeiras tentativas, duas coisas podem ocorrer:
a) A mente não se sente confiante nem à vontade e, por
isto, se mantém inibida. É o caso mais raro.
b) Os processos mentais se desenrolam febris, demasia-
damente agitados, o que pode levar o praticante a duvidar se
está fazendo certo ou até suspeitar da conveniência do método.
Prossiga, inquebrantavelmente, todos os dias a deixar a
mente escorrer livre de seus subterrâneos. Faça-o, com a certeza
de que, pouco a pouco, a ganga impura vai deixando um vazio,
que virá algum dia a ser preenchido pelo bem-aventurado si-
lêncio dos santos. A mente não pode vencer a inquietude se
não se livrar das causas da inquietude. Não superará o estado
de conflito, se os conteúdos conflitantes continuam lá, em luta.
Não vencerá a ansiedade, se esta se alimenta de materiais pro-
fundos e insondáveis.
Dê rédeas ao fluxo de sua mente. Faça como quem, sen-
tado na margem, observa o rio correndo. Quem não mergulha
no rio não é arrastado, e, só assim, do lado de fora, em segu-
rança, sem identificar-se com ele, pode aperceber-se do que ele é e como age. Sinta-se como sentado na margem, sem mergu-
lhar na mente, sem se deixar envolver, sem se deixar empolgar.
Tome conhecimento, sem julgar, sem criticar, sem lutar, sem
pretender subjugar ou reprimir, estimular ou melhorar. Esque-
ça-se dos resultados que pretende. Esqueça-se de que está que-
rendo conquistar a mente. Esqueça-se de que deseja limpá-la
e libertá-la de imperfeições.
Abhyasa ou concentração da mente só é possível depois de
algum tempo de "purgação mental". Chega mesmo a ser uma
sua conseqüência. É de resultado desalentador tentar a sujeição
da mente, fixando-a sobre um objeto. Ela se defende como um
espadarte capturado pelo anzol do pescador. Usará de todos os
seus recursos — e são imensos, inusitados, poderosos — para
não se deixar vencer. Se você for inteligente como o pescador,
acabará domando a instabilidade mental. A forma inteligente a
que me refiro é imitar o pescador, que, por algum tempo, solta
a linha e deixa que o peixe se movimente à vontade, até que,
por fim, de tanto debater-se, já estafado, não resiste à captura.
O ato da "purificação mental" eqüivale a "dar linha" à mente,
que acabará por ser submetida, sem esforço, sem luta e sem
violência. Onde reina inteligência não cabe lugar à violência.